ALEMANHA | 12.05.2011
Apesar de condenado, criminoso nazista sai livre de tribunal na Alemanha
Sessenta e seis anos depois do fim da Segunda Guerra, o Tribunal de Munique julgou talvez o último criminoso de guerra nazista. Nesta quinta-feira (12/05), John Demjanjuk foi condenado a cinco anos de prisão por ter participado ativamente do genocídio de pelo menos 28 mil judeus.
Aos 91 anos, Demjanjuk ouviu o veredicto sentado em sua cadeira de rodas. Ao fim da sessão, no entanto, o réu deixou o tribunal como um homem livre. O juiz Ralph Alt suspendeu a execução da pena. Além da idade avançada, o juiz levou em consideração os dois anos anteriores ao julgamento, em que Demjanjuk esteve preso.
O julgamento se arrasta desde 2009, ano em que o réu foi deportado dos Estados Unidos, a pedido da Alemanha. A Promotoria Pública havia pedido seis anos de condenação, mas outros promotores esperavam obter até 15 anos de pena.
Guarda voluntário
Segundo a Justiça alemã, o condenado trabalhou como guarda voluntário no campo de concentração de Sobibor, na Polônia, entre março e setembro de 1943. No local, todos os auxiliares das forças nazistas participavam da rotina de extermínio no campo de concentração, argumentou o juiz à frente do caso, Ralph Alt. Os voluntários recebiam os judeus que chegavam ao campo de concentração, faziam a vigilância e os conduziam à câmara de gás.
Ralph também mencionou que os voluntários tratavam de seguir todas as recomendações feitas pelos homens da SS nazista. Sem esses auxiliares, a execução de judeus seria irrealizável, afirmou o juiz. Em Sobibor, para cada 20 guardas nazistas da SS, existiam 150 voluntários.
Ulrisch Busch, advogado de Demjanjuk, alegou por sua vez a inocência do réu, afirmando que não era possível "constatar a culpa individual com base nos documentos existentes". Segundo Busch, o acusado, um ex-soldado soviético, não foi guarda voluntariamente. Como prisioneiro de guerra dos nazistas, ele assumiu a função para salvar sua própria vida, afirmou o advogado.
Histórico de guerra
Memorial no campo de Sobibor, na Polônia
Nascido em Kiev, na Ucrânia, John Demjanuk passou a servir o então Exército soviético em 1941 e, no ano seguinte, foi capturado como prisioneiro de guerra pelos alemães. Nessa condição, o ucraniano teria trabalhado como guarda em Sobibor, na Polônia, onde cerca de 250 mil judeus foram executados.
Com o fim da Segunda Guerra, Demjanjuk mudou-se para os Estados Unidos no início dos anos 1950. Ele foi naturalizado norte-americano em 1958 e exerceu nos EUA a profissão de engenheiro mecânico.
Ele perdeu a cidadania em 1981, quando foi extraditado para Israel por ter sido confundido com outro guarda que atuava em Treblinka, conhecido como Ivan, o Terrível. No país chegou a ser condenado à pena de morte, mas foi absolvido depois que ficou provado o equívoco.
Em 1993, Demjanjuk retornou aos Estados Unidos, mas teve problemas com a Justiça norte-americana, perdendo novamente sua cidadania. Ele foi acusado de ter trabalhado como guarda nazista em três campos de concentração e de ter escondido o fato às autoridades dos EUA. Somente em 2005, Demjanjuk recebeu a ordem de deportação.
Em território alemão
A Justiça alemã conseguiu formalizar um processo contra Jonh Demjanjuk em 2009, apesar das tentativas do acusado de lutar contra a deportação, sob o argumento de que isso teria ocorrido ilegalmente.
Demjanjuk negou qualquer participação no Holocausto e, durante o julgamento, ameaçou fazer greve de fome, caso a Justiça não o autorizasse a apresentar documentos da polícia secreta soviética, KGB, que poderiam inocentá-lo.
O Ministério público baseou a acusação no depoimento do único sobrevivente do campo de Sobibor, Jules Schelvis, e também num cartão de identidade de guarda com a foto de Demjanjuk, de 1942.
Esse foi o primeiro julgamento conduzido num tribunal alemão que condenou um prisioneiro dos nazistas instruído para trabalhar num campo de concentração. O processo foi realizado na Alemanha, porque John Demjanjuk teria trabalhado no país como motorista, logo após a Segunda Guerra.
NP/lusa/dapd/rts/dpa
Revisão: Carlos Albuquerque
Nenhum comentário:
Postar um comentário